07 abril 2014

ás


hora de abrir um botão
e enfiar a mão
dentro da calça
deixar lá
curtindo
um som
fumando
um cigarro
pensar na vida
olhar o teto
mitigar
os pensamentos
todos
estar
entre o verde
e o azul
das coisas

ver o centro em sépia
sem filtro
calma
é só uma lente
marrom
o copan
de manhã
que lindo

surfar dentro do cabelo
se imaginar
na cadeira
do cobrador
ceder lugar
fingir que dorme
pra não ceder
o lugar

o crime compensa?

ouvir a mesma canção
no loop
quarenta e quatro vezes
sem enjoar

fazer a matemática
da vida
e ver
que a soma
a divisão
e a porra do X
não importam uma pica
não valem nada
nunca valeram

comprar fiado na vendinha era bem mais lôco

é como quando
você nem menstruou
ou beijou
e busca respostas
em revistas
escritas
por pessoas
tão frustradas
quanto você

foda-se o empirismo
nossa, foda-se mesmo

existem coisas melhores
sempre existem coisas melhores na vida

discutir a grafia
dizer bom dia
e se esforçar
pra falar outra língua

ler pouco
e querer saber
muito
odiar partituras
ligar e dizer
não vou
não quero

ver a vida
não ponderar
correr o risco

foda-se a epistemologia
foda-se

prefiro
perceber
a latência
das e nas
palavras
que às vezes querem mesmo dizer algo
e eu lembro
daquela frase
“nos horizontes dos teus ais”
eu nunca esqueci isso

seja bem-vindo, outono
você sempre traz o começo e o fim
do meu inferno astral
e que venha o meu novo ciclo solar

,

hoje eu vi uma sacola voando no vento

e foi foda


Um comentário:

Vitor Camargo de Melo disse...

Poxa, de ler você na VICE, segui os links e caí aqui.

Desculpe o descaramento, mas dei uma lida e gostei demais. Tanto da prosa quanto do verso. Como também me dou a umas incursões literárias, quis deixar o elogio. Mesmo correndo o risco da intrusão.

Espero que não se importe. Parabéns.