17 janeiro 2012

omelete

são pequenas sobras alocadas nas suas pálpebras
é o restinho de um bater
de asas
de passarinho

não

é o seu último fechar de olhos antes do sono finalmente chegar

te escrevi algo hoje
nada muito profundo
deixei em cima da privada

ontem você fez uma omelete
e sentada como uma criança comportada
ri porque achei omelete uma palavra bonita

e esse sapato que nem é meu
todo molhado
me rendeu conversas solitárias
vim na chuva dizendo
"mas quanta coragem, quanta"
segurando o guarda-chuva azul

só chove
agora só chove
setembro chove

tudo que te tem no meio
me faz virar um leão
acho que mataria um dinossauro, pequeno

o que mais
o que mais

contei meu infortúnio
"cheguei lá com o sapato furado, o pé todo molhado"
e você me disse que sapato furado era um bom nome de música

esses dias dei uma espiada na janela
um casal dançava na rua
encostados no carro, a porta meio aberta
se beijavam e dançavam
estava tão bonito que fechei a janela e sorri
daí pensei em você
e lembrei de quantas vezes a gente dançou em silêncio

a gente sempre dança em silêncio

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